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quarta-feira, 27 de outubro de 2010

TRECHOS DE AUGUSTO BOAL, extraídos de HAMLET E O FILHO DO PADEIRO - memórias imaginadas - PARTE 1



" ... as palavras na língua materna, tem história e pré-história; em língua alheia, história só."

"... namoro é cultura, muda com o tempo. A Biologia, no entanto não é cultura: o corpo humano deseja em qualquer tempo... o corpo humano não é cultura: aforma de beijar pode ser, não o beijo." (p.101)

"Isto espelhos tem de ruím: espelham! Via minha imgem e sentia que alguém me via. Meu outro eu."(p.120)

"Ser ou não ser? A tragédia de Hamlet não é ser ou não ser: é ser e não ser. Hamlet é os dois, o Pai e o Tio, a morte e a vida - e só não sabe ser ele próprio. Sou especialista nessa dicotomia..."(p.127)

"Van Gogh pensou com sua cabeça, moveu o pincel com suas mãos, misturou tintas com seu olhar. Não disse: "Que será que vão dizer? Marchant vai me comprar?" Por isso soube pintar o vento, que não ficava quieto pra posar nem pra Van Gogh. Soube pintar a velhice e não apenas o velho sentado na cadeira amarela. Pintou a cor e não apenas a coisa colorida. Viva Van Gogh!
Rembrant gostava da ambiguidade do claro-escuro sem se preocupar com reclamações de quem queria mais luz pra ver melhor... Picasso sempre fez o que lhe deu na telha. Telha de artista. Imaginem se tivesse prestado atenção às mulheres que preferiam ser retratadas com um olho de cada lado do nariz e a boca embaixo das narinas? Picasso via narizes e tetas, bocas e orelhas onde quer que estivessem na sua imaginação, não na cara de suas modelos.
O público, o que eu quiser há de querer! Así soy! Não vou fazer o que penso que deva ser feito, mas o que quero: correr riscos. " (p.131)

"Com desejo e arte, falta de meios pode ser estímulo. Em nossos países escravizados estamos condenados à criatividade! (...) Espaço cênico finito: dentro de nós porém, somos infinitos. Fizemos a busca da infinitude: para dentro de nós." (p.139)

"...a verdade de todo teatro é a interrelação entre seres humanos. É a paixão que entre eles flameja." (p.140)

"O olho é a parte mais vulnerável do corpo humano! Por isso procuramos recatados, esconder nossos olhos em momentos de emoção. Ou oferecê-los, em momentos de amor. Os atores devem-se oferecer seus olhares. É no olhar que se cria a estrutura do espetáculo. É no olhar que nascem os personagens. É no olhar que se descobre a verdade.Não basta o olho aberto: falo do olhar profundo do qual até os cegos são capazes."(p.143)

"...o filósofo é a parteira que faz o aluno descobrir o que já sabe, sem saber o que sabe, através de perguntas que provocam a reflexão, abrindo caminho para a descoberta. Assim deve ser o diretor teatral: ajuda o ator a parir personagens." (143)

"A emoção decorre de uma descoberta e não da ignorância. É terapêutica: a verdade é terapêutica. Arte faz bem à saúde. Devia ser recomendada por todos os médicos. O teatro também..." (p.144)

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